03/09/2008



Parte 7

O frio canta alto pela janela e o breu invade o quarto. O sonho penetra no corpo encolhido sobre a cama. O silencio amortece os sentidos, torna o ar pesado e o sono num grande pesadelo. As mãos apertam o colchão e os dentes à boca. O corpo se encolhe nele mesmo, na tentativa de se proteger do nada que o ameaça.

O vazio toma conta e rodeia a cama. Anula tudo por onde passa. A cama não existe mais.
As bases estão sem tempo ou espaço, encima ou embaixo, perderam sua lógica e seus sentidos. Os eixos X,Y,Z se tornaram XYZABC... Nada mais se define. O corpo adormecido se confunde entre o real e o imaginário. O mundo paralelo se divide.

Sombras descolam-se do chão na tentativa de serem reais, de deixarem de serem somente um recorte da realidade, um efeito dado ao que existe ou simplesmente um contorno que imita tudo que se move.

A gravidade se esconde encima da cabeça, entra pelo tímpano e escoa pelo eco que emite dor. O travesseiro se transforma em milhares de pedregulhos que espetam a face. A consciência está fora da mente e a mente fora da pessoa. As partículas estão em guerra. Mente, alma e espírito X realidade, tempo e medo. Interior não exteriorizado, alucinado no não poder.

Farelos que saíram de um pão. Hoje não mais pão, mas sim farelos. Juntos são algo, separados, são apenas farelos. Porém, antes mesmo, desses farelos serem pão, esse pão era formado por diferentes elementos, que por sua vez, não deixaram de existir, mas juntos, misturados, se transformaram num novo elemento...

Cada pedacinho de musica que escutamos, cada pessoa que passa pela nossa frente ou até mesmo cada cheiro que entra no nosso corpo, tudo modifica nossa composição, tudo acrescenta, abre perspectivas, horizontes, portas... Constroem prédios, relações, ódios... Destroem conceitos, plastificam momentos e paralisam as pessoas de medo.

O novo surge a cada instante de vida. A metamorfose acontece! Ela não espera voluntários, ela simplesmente acontece!

Cada caixa espera ser um novo elemento, nesse novo momento. As caixas fechadas são apenas caixas fechadas, como os farelos que para nada servem...


- Aaaahhh!!! MÃÃÃÃÃE!!!


Mãe? Meu deus. Não acredito que eu chamei minha mãe. Estou petrificado de medo, como uma criança depois de um pesadelo. Minhas mãos, minha cabeça e meu maxilar doem. Espero que ela não suba. Seria ridiculamente patético. O que eu vou falar para ela se ela subir? “Mãe, então, é que eu estava aqui arrumando o quarto, quando de repente, eu fiquei com medo de uma caixa rosa, ela queria sugar minha alma. Resolvi deitar para me acalmar e tive um pesadelo, algo parecido com a morte...”. Não! Patético! Ela não entenderia... E certeza teria a brilhante idéia de me levar ao médico.

(passos subindo a escada)


Deus! Deus! Não deixe que seja a minha mãe... O que eu vou falar para ela?

- Filho? Tudo bem? (tenta entrar no quarto) Não consigo entrar. O que tem atrás da porta?
- Estou arrumando o quarto. É uma caixa que está atrás da porta.
- Você quer falar comigo? Eu escutei você me chamar...
- Hum... É que... (meu Deus o que eu falo para ela?) Não queria sair agora do quarto, no meio dessa arrumação. A senhora mesmo sabe o quanto é ruim parar algo na metade... Então eu estava pensando, se, assim...
- Mas quanta embolação... Parece até que está abobado! O que você quer?
-Xampu! Isso... Eu preciso de xampu...


(passos descendo a escada)

Até a próxima parte.



Ab.,



Fabiane Rivero Kalil

Um comentário:

Anônimo disse...

QUE MEDOOOOOOOOOO! hahahaha!

Mas o gran finale com um toque de humor! ADOROOO!!!

Bjinhos lindinha!
Clau