26/08/2008



Parte Cinco


O que é isso? Que luz é essa? Que calor é esse?...
O vento bateu dentro do quarto e um odor horrível invadiu o ambiente...

Quantos dias eu não tomo banho mesmo? Quantos dias eu não saiu desse quarto?
A realidade invadiu a vida pelo nariz. Cheiros sempre trazem lembranças. Sensações. E com elas, reações.

Preciso trocar a cortina do box do chuveiro. Toda vez que tomo banho o banheiro fica completamente molhado. A borracha desse rodo não ajuda na hora de puxar a água para onde ela deveria ir. Afinal o box é delimitado e um ralo é colocado lá para a água escoar por ele. Mas não é bem isso que acontece aqui nesse banheiro.
Acho que meu ralo tem aversão a água. Sabe quando você nasce homem e se sente mulher? Ou não se encaixa em lugar algum? Ou quando a definição de ser humano não se encaixa no seu contexto de ser? Esse ralo não se sente ralo, nunca se sentiu. Acho que ele deve ser outra coisa não definida, pois, definitivamente, ele não cumpre o propósito de ser um ralo.
Se eu fosse pensar como esse ralo, que no caso é um buraco no meu chão enfeitado com um pouco de metal vagabundo... Talvez eu não quisesse escoar água com tufos nojentos de cabelos, que com certeza grudariam por toda minha extensão. Talvez fosse um pouco mais ambicioso, talvez quisesse conduzir petróleo...
Não sou um ralo e nem quero ser. Também não vou começar a falar com objetos inanimados. Nem sou engenheiro, nem arquiteto para entender a lógica da água subir e não descer. E isso que não moro em São Tomé das Letras...
Olhar para o chão não vai me levar a lugar algum. Preciso é tirar esse cheiro que me... Como? Ai meu deus! Não é possível! Como pude deixar faltar? Como vou tomar banho sem xampu? Amo xampus. Não vivo sem xampus. No meu banheiro nunca faltou xampu.
Posso fechar os olhos e ver as prateleiras cheias de xampus... Como é bonito ver. Como é bonito falar – XAMPU. Mas não vou sair daqui... Não conseguiria. Então, o sabonete vai ser um ótimo substituto. Serve! Meu cabelo vai ficar um pouco duro, mas não pretendo ver ninguém. A não ser a minha mãe, que também não me preocupa, afinal, faz anos que não sei o que é um cafuné dela. Meu cabelo está seguro assim. O sabonete basta para lavar. Garanto que antes da publicidade investir milhões para cativar a vaidade humana, um simples sabonete bastaria. Lógico! Tomamos banho para nos limpar, certo?
Uma vez, me lembro que acompanhei minha mãe ao cabeleireiro. Sentei na sala de espera... Como o nome diz, sentei para esperar...
Pessoas frenéticas são encontradas em toda a parte. Não dopadas. Mas simplesmente por serem.
Um ótimo lugar para cultuar o corpo humano é no salão de beleza. Lugar do “prazer” obrigatório. Diria até que é um “prazer” culturalmente e socialmente imposto.
Esses lugares me fazem pensar na imagem de alguém que observa uma morena maravilhosa na praia e repara no seu corpo... Com aquele biquíni minúsculo e pêlos saindo pelas laterais da virilha... E logo após, me vem à imagem da pessoa que presenciou isso. Seria um assunto a ser estudado em qualquer cabine de depilação.
Todas as senhoras, que sentavam na sala de espera, falavam de suas rugas, ou melhor, como não tê-las... Sempre caiam na solução botox de vida. Sim, é um estilo de vida! Onde elas confiam piamente na salvação feita por profissional da estética autorizado a furar. Os pecados são pagos por uma seringa cheia de uma substância duvidosa, que é aplicada em regiões específicas do rosto e como um passe de mágica, as pessoas saem todas com mesma cara. Purificadas! Refeitas! Salvas das rugas... E com um incrível dom de sorrir.
A expressão triste jamais voltará àqueles rostos. Alguns que abusam da “felicidade” podem vir a babar, pois o sorriso fica tão largo que a boca não consegue fechar por completo... Nada contra nenhuma substância que faça as pessoas serem felizes. Nada mesmo... Só que essa dose de beleza não seria o suficiente para secar minha dor de cabeça. Se esticassem meu rosto, talvez ele se rompesse na tentativa de derramar uma lágrima... Molhada... Água... Chuveiro... Banheiro...
Por um tempo não definido, o corpo ficou e a alma se ausentou do quarto. Tempo suficiente para que a água invadisse o banheiro por completo e entrasse no quarto. O quarto estava seco graças a uma caixa grande que sugou toda a água que passava pela porta. Caixa grande e cheia de passado alagado. Era de papelão rosa, agora, é de papelão marrom com aroma de sabonete...
Até amanhã...
Fabiane Rivero Kalil

5 comentários:

Anônimo disse...

eu tenho "toque" tb. Mas ñ é com xampu! é de trancar a porta duas vezes. Eu fecho, abro e fecho de novo a porta! (RS)

Adorável texto! ADORÁVEL!!!!! PARABéNS FA!!

M.

Anônimo disse...

Tentei discrever o que eu senti lendo os capítulos

Fabi Cachitos, to arrepiada!hihihihi. Q personagem é essa? parece que vive em mim e eu nela.

bjinhos lindinha.
ps: te vi na rua hoje de manhã, linda como sempre! Mesmo descabelada. Um dia compro um pente pra vc!

Anônimo disse...

querem que eu comente..
querem ouvir a minha voz
minha voz de silêncio, minha voz pedindo: fique !

Amo tuas letras, seus espaços, hiatos!
Fico sem ar, flutuando.. tento me agarrar em algum poste que continue ligado ao chão, pois neste mundo todos flutuam, inclusive o mais terrestre dos terráquios.. uhauhahu..

mas que se dane!
comentários!?
que se dane!

comentários??
prefiro as verdades
as verdades que vejo nos olhos
sinto na pele
prefiro o sorriso tímido a cada manhã, o sorriso dos olhos fechados, a cada "bom dia".

Bom dia!
te amo!


( quero a parte 6 e 7 !!! e agooooora!) =)

Anônimo disse...

e só pra constar...
é muito importante ter vários shampoos, viu..
todo mundo sabe que é bom variar de shampoo, faz bem para o cabelo..

é o que dizem, né..
não tenho muuuuito cabelo pra ter certeza, mas eu acredito!
hehe..
amo!

Tata disse...

Fabi, tá muito bom.. dá vontade de ler mais, sempre!
parabéns
beijos