19/08/2008





IMPORTANTE


Antes de iniciar o novo projeto deste blog (um livro dividido em capítulos que serão postados diariamente), gostaria que vocês lessem atentamente os versos de Drummond, pois sem eles nada valem as palavras que colocarei em cada capítulo do livro... não decidi o nome, mas ele é puro em vivência... puro em sentidos. Dê o seu sentido para cada linha lida... mas antes deixe Drummond mover alguns conceitos pré colocados sobre as poesias...


Até o primeiro capítulo do livro...



Procura da Poesia, do livro A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade


Não faças versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.

Diante dela, a vida é um sol estático,

não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Não faças poesia com o corpo,

esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.


Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escurosão indiferentes.

Nem me reveles teus sentimentos,

que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.

O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.


Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.

O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.

Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza

nem os homens em sociedade.

Para ele, chuva e noite, f

adiga e esperança nada significam.

A poesia (não tires poesia das coisas)

elide sujeito e objeto.



Não dramatizes, não invoques,

não indagues.

Não percas tempo em mentir.

Não te aborreças.

Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,

vossas mazurcas e abusões,

vossos esqueletos de família

desaparecem na curva do tempo,

é algo imprestável.



Não recomponhas

tua sepultada e merencória infância.

Não osciles entre o espelho e amemória em dissipação.

Que se dissipou, não era poesia.

Que se partiu, cristal não era.



Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.


Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consume

com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio.


Não forces o poema a desprender-se do limbo.

Não colhas no chão o poema que se perdeu.

Não adules o poema.

Aceita-o

como ele aceitará sua forma definitiva e concentradano espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.


Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível, que lhe deres:

Trouxeste a chave?


Repara:ermas de melodia e conceito

elas se refugiaram na noite, as palavras.

Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tô ansiosa esperando o próximo.....pelo visto vc anda muito inspirada.....será amor????? Rs
Sô.

Anônimo disse...

Amo o tudo que você escreve! Não vejo a hora de mergulhar em seus pensamentos e achar os meus!
Bjo
De

Anônimo disse...

Nada melhor que Drummond escrevendo poesia sobre poesia p/ iniciar qquer projeto.
Tô curiosa! há
Vc sabe trabalhar as palavras mto bem.
Mas, como vc tb conhece meu jeito de escrever, te digo agora: Não vale dar mil voltas sobre o mesmo assunto.
rs.
Bjos, Fá.

Tata disse...

Fiquei arrepiada ao ler Drummond.
Esperando os capítulos do seu livro. Ansiosa.
beijo
Ps: postar comentários sobre a Argentina é uma questão de muita, mas muita humildade. Difícil engolir!